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Walter Benjamin: A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica

W. Benjamin 1(892-1940)

Por Caroline Knup Tonzar 

Em 1955, Walter Benjamin publica o texto “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, que aborda o tema da obra de arte e sua reprodução massiva na sociedade de massas. No início do texto, o autor diz que a arte sempre foi reproduzida, desde a Grécia Antiga (e cita exemplos como o das moedas e terracotas gregas). Entretanto, afirma que o fenômeno da reprodução técnica das obras de arte é fundamentalmente recente. Para Benjamin, nunca, em toda a história, as obras de arte foram tão reproduzidas e disseminadas como na sociedade formada pelas massas. 

Para exemplificar, o filósofo escreve sobre a história da obra de arte. Em sua linha do tempo, cita a xilogravura, processo que permitiu a reprodução de desenhos, bem como a litografia, que foi responsável pela produção de desenhos novos que eram destinados às massas e ao mercado consumidor. Além disso, cita a fotografia. Sobre esta última, insere dois conceitos importantes em sua teoria: o valor de culto e o valor de exposição. 

Segundo Benjamin, antigamente as obras de arte eram feitas com uma intenção mágica, uma função de ritual. Essas imagens tinham o objetivo de existirem, não de serem vistas por muitas pessoas. Muito pelo contrário: a arte era vista por pouquíssimas pessoas, uma vez que estavam a serviço da magia, não dos homens. Os temas dessas obras eram, nos antigos períodos, o homem e seu meio. Entretanto, à medida que as obras vão sendo expostas para cada vez mais pessoas, o valor de culto cede lugar ao chamado valor de exposição. 


Atualmente, o valor de exposição deve sua existência ao fenômeno da reprodutibilidade técnica e traz para a arte funções extremamente novas e diferentes das que existiam anteriormente. Hoje, a arte é reproduzida com objetivos bem definidos, sendo estes em consonância com a ideologia capitalista do lucro e também da democratização, uma vez que as obras se tornam mais acessíveis à população. 

Quanto à fotografia, Benjamin afirma que é com ela que o valor de culto começa a sofrer retração. Entretanto, no começo, o culto ainda estava presente nas imagens. Esse é o caso dos retratos, por exemplo, nos quais estava presente o culto aos entes queridos, o culto à saudade. Foi somente com fotografias de lugares e objetos que a fotografia passou a adquirir o valor de exposição. 

Há, ainda, mais um conceito importante na teoria do filósofo: a aura da obra de arte. Aura pode ser definida como “uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante por mais perto que ela esteja” (BENJAMIN, 1955). Para Benjamin, com a reprodução técnica das obras de arte, por mais perfeita que seja a imitação, há uma perda: a aura, o “aqui e agora” da obra não existem mais. Esses elementos só existem na criação original e se referem à existência única daquela obra, o que está vinculado à tradição. De acordo com o autor, quando uma obra é reproduzida massivamente, a sua tradição e o seu testemunho são perdidos. É com a reprodutibilidade técnica que a existência única perde espaço para a existência serial. 

Apesar de dissertar sobre a arte de uma maneira geral, Walter Benjamin concede uma análise especial ao cinema. Este tema permeia todo o texto do autor e exprime questões muito pertinentes ao mundo atual. 

Sobre a produção cinematográfica, Benjamin afirma: 

A reprodutibilidade técnica do filme tem seu fundamento imediato na técnica de sua produção. Esta não apenas permite, da forma mais imediata, a difusão em massa da obra cinematográfica, como a torna obrigatória. A difusão se torna obrigatória, porque a produção de um filme é tão cara que um consumidor que poderia, por exemplo, pagar um quadro, não pode mais pagar um filme. (BENJAMIN, 1955)

Para o autor, o cinema é uma criação da coletividade e estava vinculado, no século XX, à ideologia fascista, que propagava suas ideias por meio de filmes da época. 
Ainda sobre o cinema, Benjamin afirma que o ator não representa diante de um público, mas diante de um grupo de especialistas (toda a equipe de filmagem, inclusive o diretor, o qual tem direito de intervir na interpretação do artista). Desse modo, o ator não representa diante de um público, mas sim diante de um aparelho (os responsáveis pela produção e seus aparatos tecnológicos). 

Benjamin (1955), no texto, afirma que “para o cinema, é menos importante o ator representar diante do público um outro personagem, que ele representar a si mesmo diante do aparelho”. Assim, no palco, segundo as ideias de Pirandello, autor citado por Benjamin, o ator de cinema (não de teatro, pois entre eles existe muita diferença) sente-se exilado do palco e de si mesmo. Isso porque ele está ali apenas para formar uma imagem que será produzida, reproduzida e depois silenciada. Isso provoca no ator um “vazio inexplicável”, conforme definido por Pirandello. 

Mais adiante no texto, Benjamin explica a diferença existente entre um ator de cinema e um ator de teatro. Enquanto a obra teatral traz sempre uma atuação nova e original, pois conta com a aura da obra e a presença do “aqui e agora”, o cinema sempre traz a mesma atuação, a qual pode ser reproduzida da mesma maneira por infinitas vezes. Sobre o assunto, Benjamin diz:

O ator de teatro, ao aparecer no palco, entra no interior de um papel. Essa possibilidade é muitas vezes negada ao ator de cinema. Sua atuação não é unitária, mas decomposta em várias sequências individuais, cuja concretização é determinada por fatores puramente aleatórios […]. (BENJAMIN, 1955)

De acordo com Benjamin, a indústria cinematográfica, além de ter interesse em vender seus produtos, também objetiva a participação das massas nesse meio, seja através de “concepções ilusórias ou especulações ambivalentes”. Isso significa que o público fica envolvido não somente com os filmes e os personagens que os estrelam, mas também com os atores e atrizes em suas vidas pessoais, suas vidas foras das telas.