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Resenha: O Racismo Estrutural está em todo o ódio que você semeia (com spoilers)

Por Thaisa Mariano Alves

O ódio que você semeia

Livro: 2017 / EUA
Autora: Angie Thomas

N° Páginas: 378

Filme: 2018 / 2h 13min / Drama / EUA 

Direção: George Tillman Jr. 
Elenco: Amandla Stenberg, Regina Hall, Russell Hornsby 
Disponível: Telecine Play, Youtube Filmes

Livro: Amazon
Trailer: Youtube


Starr é uma adolescente, de 16 anos, que presencia o assassinato do seu melhor amigo negro por um policial branco.
Ela tenta encobrir sua negritude na escola de brancos, a qual a mãe a teria colocado juntamente com seus irmãos para estudarem, na esperança de terem uma educação e vida melhor, considerando que as escolas do bairro não eram uma boa opção por conta da criminalidade.


Desse modo, Starr acabou desenvolvendo uma dupla personalidade: a Starr número 1, filha de um ex gângster e filiado ao Partido dos Panteras Negras, criada para ter orgulho de sua cor e ser empoderada, que utiliza gírias em sua fala, uma Starr que defenda sua raça e seus princípios. E a Starr número 2 que tem medo de ser julgada, não utiliza nenhum tipo de gírias e tenta ser o mais invisível possível, com medo de ser alvo de piedade – “a coitadinha negra do gueto”.
Depois de perceber que sua amiga tem atitudes e pensamentos racistas ela começa a entender porque sua voz tem que ser ouvida. Além disso, ela vai ao julgamento em defesa de seu amigo que estaria sendo acusado de ser um bandido, mas no fim não dá em nada. Starr chega a conclusão de que na comunidade negra as crianças são criadas para temerem a polícia, que é vista como inimigo, e são criadas para se orgulharem da sua cor, de sempre se apoiarem como comunidade.

Seu tio, que é policial, tenta explicar como funciona o enquadramento. Então Star o questiona “Se Khalil fosse um homem branco, em um carro de luxo, em um bairro de classe alta, o policial teria atirado nele? Teria o abordado daquela forma?”. A resposta foi não, nada daquilo teria acontecido se eles fossem brancos.
No final, perceberam que discursos empoderados não mudam o racismo estrutural que brancos e policiais tem, algo que está enraizado neles. Na vida real existem várias Starr e vários Khalil, assim como existem muitas pessoas como o policial Brian, ou um-quinze como a personagem o chama durante o filme todo, que saem impunes.
Como diria Oscar Wilde “A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida.” Tivemos um acontecimento recente, George Floyd, assim como Khalil, foi morto injustamente por violência policial. Nós, assim como Starr, erguemos nossa voz e fomos atrás de justiça, mas nada foi feito. É como ela diz no filme: “não importa o quão alto nós gritamos, eles se recusam a ouvir”. Starr percebe que o racismo é algo muito complexo, desde a criação das crianças à violência da polícia.

O filme “O ódio que você semeia” se assemelha com as obras “Olhos que condenam”, “Infiltrado na Klan”, e também com a série de “Atlanta” que evidencia a desigualdade social, estrutural e econômica entre negros e brancos.