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Acredito que homens e mulheres têm liberdade de viver sua sexualidade e sua vida da maneira que escolherem. Porém devemos lembrar o significado de LIBERDADE. Valho-me do antigo ditado: “sua liberdade/seu direito vai até onde o do outro começa”. No entanto, vivemos em uma sociedade que impera o machismo e o sexismo, e no mínimo, a violência. Diariamente somos agredidas com comentários, olhares famintos, nomes chulos, cantadas abusivas e diversas outras atitudes que degradam a imagem da mulher. Homens têm seus direitos ampliados e as mulheres, restringidos…

Já perdi a conta das vezes que fui limitada de minha liberdade de ir e vir por me sentir insegura e com vergonha em pontos de ônibus, caminhando pela rua, sentada sozinha em locais privados ou públicos. Acostumei a ficar sempre pedindo pela companhia do pai, do namorado ou algum amigo para poder ser respeitada. Por quê? Porque há homens em toda parte que (para mostrarem para a sociedade que são Homens?) precisam olhar e tratar mulheres como objetos. O desrespeito e a violência à mulher é tão comum que muitas vezes nem nos damos conta de sua presença. Esses dias li uma crônica do escritor e humorista Gregório Duvivier titulada “Xingamentos” (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2014/01/1393513-xingamento.shtml) onde ele diz que até mesmo quando se quer atingir um homem, quem leva o ataque é a mulher, ou o homem é corno ou é filho de uma piranha. Realmente a nossa sociedade não poupa esforços para reproduzir esse machismo dissimulado que muitos dizem não existir. Nem mesmo nós mulheres escapamos de perpetuarmos esses mecanismos de dominação.

Historicamente a sociedade (machista) tenta mostrar às mulheres sua posição de inferioridade… Isso vai desde a sensibilidade feminina, passando pela TPM, abordado as questões sexuais, indo até a divisão doméstica do trabalho e culminando nas definições de papéis sociais masculinos e femininos onde o homem é o cérebro e a mulher os braços que o homem, digo, o cérebro, comanda. Ensinamos os meninos a não chorarem, a não fazerem coisas de menininhas, ensinamos às meninas que elas não podem sair às ruas, nem se expor demais para não chamar atenção dos meninos – porque os meninos não tem que respeitar as meninas, mas as meninas que não podem dar brechas para que os meninos pensem que podem abusar delas.

Ok, então pegar um ônibus para ir trabalhar é sinônimo de dizer: ei cara passando de carro: pode me chamar de gostosa. Ei senhor perto de mim: pode apertar minha bunda. Ei rapaz: pode me estuprar, foi eu que te provoquei, a culpa é toda minha, minha máxima culpa. Aí a sociedade vai dizer: mas que roupa ela estava vestindo? O que ela fazia uma hora dessas na rua? Foi ela que chamou a atenção dele! Sim, exatamente porque lugar de mulher não é trabalhando e estudando, é ficando dentro de casa! Se mulher precisar estudar ou trabalhar, que o pai, o marido, o irmão lhe acompanhe! Se estava sozinha, pediu para ser estuprada! ORAS! Pelo amor de Deus! Cansei de ouvir tamanhas asneiras.

Jovens indianas precisaram morrer e suas histórias serem compradas pelas mídias internacionais para as autoridades governamentais começarem a perceber que o estupro é um problema social gravíssimo e recorrente, e então despertar movimentos como o do vídeo aqui compartilhado (https://www.youtube.com/watch?v=SDYFqQZEdRA). 
Mas estupros, agressões contra mulheres como surras, mutilações e torturas, que muitas vezes levam à morte, são apenas consequências daquele “gostosa” que um Zezinho disse na rua, ele que nunca foi ensinado a respeitar as mulheres. Ou são consequências daquelas outras tantas que se calaram quando sofreram os mais diversos abusos, inclusive de seus parentes ou companheiros. Para cada mulher que denuncia um mal trato, outras dezenas estão omissas.

Precisamos dizer chega. Mudar nossas atitudes. Não importa se somos homem ou mulher, ou qual é nossa orientação sexual ou religião. Todos “precisamos e queremos ter carinho, liberdade, respeito, chega de opressão… queremos viver nossa vida em paz!”, como cantou Renato Russo. Então por favor, jovem estudante, professor, trabalhador, quem quer que você seja, lembre que é human@ como qualquer outr@. Olhe para si próprio e pense suas atitudes. O que pode ser mudado? Reproduza respeito, e não violência.