Para adentrar a reflexão sobre o Estado capitalista e as lutas que se desenvolvem em seu interior, tomemos alguns conceitos sobre qual a função do Estado, os interesses que este defende e como se desenvolvem as lutas de classes dentro do mesmo.
Democracia como Ilusão
Décio Saes (1998) traça seus conceitos a respeito do Estado. Segundo sua colocação pode-se definir um conceito de Estado em geral, ao passo em que se observam as relações de dominação de uma classe sobre a outra durante a história da humanidade. Portanto, o conceito de Estado em geral se apresenta como um moderador das lutas de classes por conservar a dominação de uma classe sobre a outra. Há assim uma correspondência entre as formas políticas que o Estado toma e com os diversos tipos de relação de produção.
Segundo a visão de Saes (1998) na atualidade figura-se o Estado burguês (Saes se utiliza deste termo, ao invés de Estado Capitalista, por estar em conformidade com perspectivas teóricas de Marx e Engels, bem como também compreende que as relações de produção que se dão no interior deste tipo de Estado são relações que legitimam as reproduções das práticas de dominação burguesas.) que organiza de modo particular a dominação de classes ao se corresponder com as relações de produção capitalistas, dando as estas os aspectos jurídicos/políticos necessários à sua reprodução.
Imperaumtipoparticulardeilusãoreferenteatrocadavendadaforçadetrabalho por saláriocomotrocaentre equivalentes. Saes (1998) aponta que talilusão mercantilse acha determinada, nãonaesfera daprodução,massimnaesferadodireito.Ailusãodessatroca comosendouma troca de equivalentesaproximaaideia de que há umacorrespondência entre estado burguêse relaçõesdeproduçãocapitalista.
Nasrelaçõesde produçãocapitalistahá uma separaçãoentre oprodutordiretoe os meiosde produção.Esta separaçãoestá pautadana grande indústria moderna,que serve de parâmetroempíricoparaquesepossapensarcomonocapitalismoocorre essaseparaçãoentre o produtor direito demais valia– produtor diretodevalor –eos meios deprodução.
1. Processo no qual o produtor está em umarelação altamentesocializada.
2. Essaproduçãoaltamentesocializadavaiprovocarnotrabalhadordoisreflexosdo processo de produção:
2.1. Dependência – que faz do trabalhador dependente dos demais trabalhos realizados por outros trabalhadores, devido à produção seriada e especializada.
2.2. Independência– querequer do trabalhadortrabalhos privados.
A economia cresce às custas do trabalhador
Otrabalhadoré responsávelpor sisó,masamercadoria produzidadepende detodos. O trabalhadorestáinseridonumcoletivode trabalhadores,masele sóconhece parte do processo de produção damercadoria.
SegundoDécioSaes,háumadecomposiçãodoprocessode produção.Aposiçãodo produtordiretoe oproprietáriodosmeiosdeproduçãoela é individualouparte de uma coletividadedetrabalhadores?
Oposiçãoentrea independênciaeadependênciado produtordiretoéuma contradição objetivado processo de trabalho típicodagrande indústria moderna. Emaisainda:essacontradição determinaa formação,no produtor direto,deduastendênciaspermanentementeem luta:atendênciaao isolamento,a tendência à ação coletiva[união empartidos, sindicatos,etc] (SAES, 1998, pg. 29)
Ora,essaatribuiçãodeigualdade (condiçãocomum demembrosdoPovo– Nação), é,aomesmotempo,atribuiçãode individualidade (habitantescomo indivíduos). Assim,aunificação aparenteouformaldosagentesda produção noPovo–Naçãotransformaosprodutoresdiretosem indivíduos:neutralizaa sua tendênciaà açãocoletiva,dá predominância àsuatendênciade isolamento.Essaindividualizaçãoéum obstáculoàlutadosprodutores diretoscontrao proprietáriodosmeiosdeprodução que lhesextorqueo sobretrabalho; nessa medida, ela torna impossível a renovação contínua desseprocesso deextorsão. (SAES, 1998,p.32)
Entretantoé necessário observarque aclasse socialseconstituide modoprocessual, enquantoosindivíduostomamconsciência doque sãodurante a luta de classes.Asclassesse constituem na luta de classes.
Afimdeimpedirestatomada deconsciênciadeclasses,Saes(1998) apontaque Estado burguêsse utiliza deumaestruturajurídico–políticaquecomportaodireitoburguês, este por sua vezé reconhecidopor dar umtratamentoigualaosdesiguaispor meiode ilusões. Todos são iguais perante o âmbito jurídico, o que parte de uma vontade subjetiva e capacidade de praticar osmesmosatos,onde cada indivíduotema capacidade jurídicade formar umcontrato,oquefazdetodosformalmenteiguais,porém,napráticadasrelações sociaisedeproduçãoadesigualdadesefazpresente.Outra ilusãoéasupostatrocaentre equivalentes, onde a venda da força de trabalhopor umsalárioespecificadoé compreendido como justa, no entanto esta trocanão deixadeserdesigual.
O burocratismo,comoobserva Saes(1998),é umsistema particular de organização dasforçasarmadase dasforçascoletorasdoEstado,na medidaemquederiva,todoele,de duas normas fundamentais:
I –nãomonopolizaçãodastarefasdoEstado–forçasarmadaseforçascoletoras– pela classeexploradora;ounãoproibiçãodoacesso,a essas tarefas,demembrosda classe explorada.
II –hierarquizaçãodastarefasdoEstadosegundoocritérioformalizadoda competência,istoé,donívelde conhecimento ousaberexigidodaquelesque sedispõema desempenhá–las.
Pirâmide da Desigualdade
O Estado deveusardetodos os seus mecanismospara elevara ideiadeEstado Nação eapagarasclassessociais.RessaltemosaprincipalfunçãodoEstado:neutralizararevolução social. SAES, D. O conceito de estado burguês. In: Estado e democracia: ensaios teóricos. 2. ed. Campinas: UNICAMP, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 1998 (Coleção Trajetória, n. 1).