Jeniffer Modenuti
Coletivo feminista de estudantes de comunicação se mobiliza na luta contra o machismo e a misoginia na universidade, na profissão e na educação.
Marina Lacerda |
A universidade é misógina. Essa foi a afirmação de Marina Lacerda, 24. Ela é integrante do Juremah (jornalistas unidas na resistência contra o machismo e a hegemonia), um coletivo feminista das estudantes de comunicação da Universidade Estadual de Londrina, criado em 2015.
Este coletivo agrega integrantes do jornalismo e de relações públicas, englobando os cursos de jornalismo e relações públicas da Universidade. E, além disso, se destaca em não defender uma única vertente do feminismo, bem como se considera apartidário: todas são bem-vindas.
Entre as ações do coletivo houve as que promoveram mobilizações em apoio a jornalistas que foram alvo de situações de machismo, misoginia ou violência, houve também a participação junto à comunidade escolar, na promoção de debates e discussões sobre estes temas em meio aos jovens estudantes.
A Universidade, como um lócus privilegiado de estudos e debates, ainda carece da discussão de gênero. Essa preocupação foi apontada pela jornalista, que afirmou que a universidade ainda é misógina. Este termo significa o ódio ou a aversão a mulheres, que está embasado no preconceito e na intolerância.
Por isso a principal meta na resistência ao machismo e a hegemonia é a educação e discussão sobre igualdade de gênero. Ir às escolas é uma forma de levar esse debate para além da universidade, criar canais de comunicação com meninos e meninas, futuros trabalhadores, profissionais e universitários, e assim quebrar preconceitos.
Lacerda apontou frustração com o quanto a cultura reproduz o machismo, assim como há repressão à luta feminista. Dentro do próprio departamento de estudos ela e o coletivo se depararam com o silêncio de professores e representantes docentes ao lidar com situações de assédio praticadas por um professor. No lugar de resolverem o problema, preferiram mascará-lo.
Quanto ao mercado de trabalho, ela considerou que se a universidade é misógina, o mercado de trabalho é mais ainda. Segundo a jornalista a profissão é permeada de dificuldades para a mulher. Nisso entra o assédio moral e sexual, assim como há áreas em que a mulher não é bem-vinda por não ter presença ou voz expressiva, por exemplo. Além disso há a média de salários mais baixos para mulheres que para homens, o que é um dos resultados do fato de os melhores cargos serem preenchidos por homens.
E o empoderamento feminino, tema que está em voga na atualidade ao indicar o poder da mulher. Isso significa agir com liberdade, tomar decisões e administrar sua própria vida. Contudo esse termo é muitas vezes utilizado pela mídia para atender a interesses de mercado, ao invés de destacar sua face política e de luta das mulheres na sociedade.
“Temos uma sociedade muito sedimentada e patriarcal”
Marina Lacerda disse que sempre foi feminista, só não sabia disso. A universidade foi o espaço onde ela encontrou perspectivas que iam além das visões de mundo que tinha até então. Aceitar seu corpo e seu cabelo foram resultados dessa incursão na vida universitária. Foi na UEL que ela percebeu que era feminista e o quanto o feminismo é necessário na sociedade.
O Juremah e as experiências vividas no coletivo proporcionaram a ela a reflexão sobre sua posição na sociedade enquanto mulher e profissional. Hoje ela defende um feminismo ativo e mantém um blog, o “Vestido Latino”, que foi fruto de sua pesquisa de conclusão de curso e da sua experiência ao viajar para o México após a graduação. Ela afirmou, inclusive, que a coragem que lhe faltava para ir nessa viagem, ela encontrou no Juremah.
A jornalista afirma que o Juremah precisa de novas integrantes, já que muitas das jovens que faziam parte se graduaram e não podem mais participar ativamente do coletivo. Essa é a principal perspectiva do coletivo para 2017: agregar mais integrantes na busca da igualdade, na resistência na prática.