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Ocupações de Escolas pelos Estudantes do Paraná

Por: Jeniffer Modenuti

Estamos observando a aurora do novo movimento estudantil. Estudantes que lutam por direitos que não querem perder, e que reconhecem que é preciso luta, pois nenhum direito é dado de presente, e sim é conquistado.
Sou professora e Socióloga e sou a favor de práticas que visem desenvolver debates sobre a medida provisória e as PEC que estão tramitando, principalmente a PEC 241, como a também famosa lei da mordaça e contra a MP 746 que é o epicentro de todo esse movimento. Acredito que é necessário refletir muito sobre o desenvolvimento do movimento de ocupações. Estou observando os acontecimentos dessa semana, por isso compartilho minha perspectiva sobre a questão.
Para os que querem realizar um movimento estudantil é necessário que se tenha uma ideologia bem definida, que mostre o que os alunos querem, o porquê da luta, o que eles estão defendendo. Isso depreende de estudos sobre o assunto
Em segundo lugar um projeto que delimite as ações que serão tomadas, em todas as instâncias. E essas ações estão em promover oficinas, palestras e muita faxina! Restaurar, pintar, arrumar, plantar… se os estudantes estão tomando a escola com um discurso que ela pertence a eles, então que mostrem isso cuidando muito bem dela.
E em terceiro lugar, uma organização. É preciso definir funções, distribuir responsabilidade, organizar os espaços e ações, estimar os recursos que serão utilizados em meio a isso, criar margens para arrecadação, pois haverão gastos (comida, limpeza, dinheiro).
Ocupar uma escola não é apenas levar alguns colchões, não é fazer farra, não é festa. É preciso estar preparado, pois é uma ação política de grande expressão.
É preciso estabelecer regras, manter o respeito, a ordem, e seguir os projetos que foram definidos.
Se os alunos realmente estão estimulados a lutar contra as imposições que estão sendo colocadas sobre nós estudantes e docentes, é preciso que estejam muito bem preparados pra isso. Estarem com as respostas na ponta da língua do porquê do movimento para cada pessoa que perguntar.
E esse preparo começa com todos sentando e estudando o que é um movimento social como este e pelo que se está lutando. É preciso fazer assembleias, conversar muito com a comunidade escolar, falar com todas as turmas… Honestamente, whatsApp pode ajudar, mas só se for bem usado. Eu já fui colocada em um grupos que não entendia nada do que estavam falando, ou sequer conseguia entender algumas coisas que estavam escritas! A linguagem precisa ser direta e os assuntos, objetivos.
Defendo panfletagens, defendo bater de porta em porta explicando aos cidadãos a situação, defendo atos políticos na praça, na avenida, em todos os lugares, defendo irem falar por 2 minutos que seja na hora das missas e cultos… Dessa forma é que o movimento amadurece e ganha forças para enfrentar o que está por vir, inclusive para enfrentar a própria sociedade, pois quando a sociedade não sabe dos nossos problemas, vão apenas ver os alunos que ocupam escolas como bardeneiros ou crianças que só querem diversão.
Peço aos meus estudantes que reflitam muito bem sobre tudo isso. Não quero, nem posso incitá-los ou desestimulá-los, porém sigo a ética da minha profissão e da minha formação enquanto socióloga, não apenas enquanto professora.
“Que tempos são esses em que é preciso se defender o óbvio?” B. Brecht