Grandes movimentos sociais surgiram na última década do século passado a partir da pioneira revolta dos zapatistas em 1994, a aparição dos piqueteiros argentinos, as grandes greves dos trabalhadores na França e na Coréia do Sul, pouco depois, e a maturação e consolidação internacional dos protestos em Seattle e Porto Alegre. Consequentemente, novas forças políticas passaram a controlar os governos (em países como a Venezuela e o Brasil) ou se prepararam para fazê-lo, como no Uruguai; e distintos governos se veem diante da necessidade de abandonar as políticas que, no passado, causaram os estragos conhecidos de todos, como demonstra o caso argentino – entre outros. É preciso deixar claro, porém, que na maioria dos casos as mudanças mais importantes aconteceram no campo mais brando da retórica e do discurso, e não no mais duro e áspero terreno das políticas econômicas. Mas, ainda diante destas limitações, as mudanças são muito significativas e seria um engano subestimar seu alcance.
BRASIL: MOVIMENTO DOS TRABALHA-DORES RURAIS SEM-TERRA (MST)
Foi em 1984, durante o 1º Encontro dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, em Cascavel (PR), que o MST foi fundado oficialmente. No ano seguinte e já organizado nacionalmente, acontece o 1º Congresso Nacional dos Sem Terra.
Contando desta forma parece que foi tudo muito fácil. Mas o MST não surgiu do nada ou da cabeça de apenas uma pessoa. Esta história começou no final da década de 70, em plena ditadura militar. O país vivia o chamado “milagre brasileiro”, que para os pobres do campo e da cidade estava mais para “praga brasileira”: desemprego e migração dos camponeses para as cidades. A intensa mecanização da agricultura introduzida pelos governos militares expulsou assalariados, arrendatários e parceiros do campo.
Mas havia camponeses que acreditavam que podiam se organizar e resistir trabalhando na terra. Assim, em 7 de outubro de 1979, agricultores sem terra do Rio Grande do Sul ocupam a gleba Macali, em Ronda Alta.
Ao mesmo tempo, lutas semelhantes foram acontecendo nos demais estados do Sul, Mato Grosso e em São Paulo. Em cada Estado surgiam ocupações de trabalhadores rurais e a notícia se espalhou. A sociedade brasileira aderiu e as ocupações dos sem-terra foram uma das manifestações pela volta da democracia em todo o país.
O MST, no entanto, não é o primeiro movimento a lutar pela terra no Brasil e na América Latina. Muito antes, as famílias agricultoras já se organizavam em busca de terra e melhores condições de trabalho e vida. Podemos citar como exemplo, as Ligas Camponesas e o Master (Movimento dos Agricultores Sem-terra) entre 1950 e 1964; Canudos e Contestado no final do século 19. A revolução mexicana, no início do século 20 e a cubana, em 1959, também foram sinônimo de “terra para quem nela trabalha”. Estas e outras lutas inspiraram o MST a seguir lutando por um Brasil sem Latifúndio.
Aos poucos o MST foi entendendo que conquistar a terra é importante, mas não basta. É preciso conquistar também crédito, moradia, assistência técnica, escolas, atendimento à saúde e outras necessidades da família sem-terra que também precisam ser supridas. E mais: descobriu-se que a luta não é apenas contra o latifúndio; é contra o modelo econômico neoliberal.
Assim, foram organizados acampamentos, ocupações de fazendas, sedes de organismos públicos e de multinacionais, destruição de plantações transgênicas, marchas, greves de fome e outras ações políticas.
Hoje o MST atua em 23 estados, envolvendo mais de 1,5 milhão de pessoas, cerca de 350 mil famílias foram assentadas através desta luta e outras 80 mil vivem em acampamentos.
Em números, podemos confirmar que a Reforma Agrária dá certo. Existem hoje cerca de 400 associações de produção, comercialização e serviços; 49 Cooperativas de Produção Agropecuária (CPA), com 2299 famílias associadas; 32 Cooperativas de Prestação de Serviços com 11.174 sócios diretos; duas Cooperativas Regionais de Comercialização e três Cooperativas de Crédito com 6521 associados.
São 96 pequenas e médias agroindústrias que processam frutas, hortaliças, leite e derivados, grãos, café, carnes e doces. Tais empreendimentos econômicos do MST geram emprego, renda e impostos beneficiando indiretamente cerca de 700 pequenos municípios do interior do Brasil.
Aliada à produção está a educação: cerca de 160 mil crianças estudam da 1ª a 4ª série nas 1800 escolas públicas dos assentamentos. São cerca de 3900 educadoras/es pagos pelos municípios e desenvolvendo uma pedagogia específica para as escolas do campo. Em conjunto com a Unesco e mais de 50 Universidades, o MST desenvolve programa de alfabetização de aproximadamente 19 mil jovens e adultos nos assentamentos.
O MST ousando desafiar a estrutura secular do latifúndio no país, mostra-nos que a população trabalhadora não é apenas capaz de organizar-se, mas, especialmente, que é eficiente na luta para ocupar a terra e para fazê-la produzir.
MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TETO (MTST)
O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), é um movimento comunista de caráter social, político e popular organizado em 1997 pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para atuar nas grandes cidades com o objetivo de lutar pela reforma urbana, por “um modelo de cidade mais justa e pelo direito à moradia”. É uma organização autônoma, desvinculada rapidamente do próprio MST, com princípios, programa e forma de funcionamento próprios. Além do trabalho organizado de luta por moradias, o MTST mobiliza pessoas em bairros pobres, organizando lutas, ocupações e atos de desobediência civil. Guilherme Boulos é um dos líderes mais destacados do MTST.
O MTST defende uma transformação profunda da forma da sociedade, como única maneira de atender aos interesses dos trabalhadores. Aposta na ação direta, em especial através das invasões de terrenos urbanos, orientada no sentido da construção de poder. As invasões de áreas urbanas já reúnem cerca de 40 mil famílias participantes do MTST, nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal, Amazonas, Roraima, Ceará, Pará, Pernambuco e Rio Grande do Sul.
Atualmente compõe a Frente Povo Sem Medo, junto com movimentos e organizações como as Brigadas Populares (BPs), o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), o RUA Juventude Anticapitalista, a Esquerda Marxista, o Polo Comunista Luiz Carlos Prestes e entidades ligadas ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), além de outras inúmeras entidades.
O MOVIMENTO INDÍGENA