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Max Weber e a Sociologia

Max Weber foi o sociólogo alemão que deu bases essenciais para a formação da sociologia enquanto disciplina acadêmica.

Em sua perspectiva sobre a sociedade, Weber percebe que há uma teia de nexos causais – relações sociais que se conectam como uma teia, e esta molda a sociedade. Nesse sentindo, os indivíduos passam a ser valorizados em sua ação, visto que esta é que constrói a sociedade.

Como, então, podemos conseguir dar conta de compreender uma sociedade de 7 bilhões de indivíduos agindo a todo o momento?

Pra nos ajudar a responder a isso, Weber cria o que ele chama de tipos ideais.

O tipo ideal é um modelo abstrato que serve como um ponto de partida para a análise e a reflexão.

Por exemplo, meus lindos aluninhos do 3º ano estavam organizando a camiseta dos formandos, o que é uma atividade típica dos estudantes em seu último ano de escola.
Esta sala tinha 40 alunos, cada um com uma altura, tipo de corpo e estilo. Nenhum profissional da costura iria tirar as medidas e moldes do corpo de cada aluno! Loucura, certo? O que fizeram foi padronizar as camisetas em P, M e G. Dessa forma, todos os alunos puderam escolher o tipo que mais se adequava ao seu corpo e gosto pessoal.

Os tipos ideais são moldes que vão servir para nos auxiliar na compreensão da sociedade. Não são respostas prontas e acabadas, mas sim, esquemas abstratos que guiam o pesquisador.

Existem dois principais tipos ideais criados por Weber: o de ação social e o de dominação.

Os tipos ideias de ação social são 4: 
Ação afetiva (ou emotiva);
Ação tradicional;
Ação racional com relação a valores;
Ação racional com relação a fins.

Os tipos ideias de dominação são 3:
Dominação carismática;
Dominação tradicional;
Dominação racional legal (ou burocrática).

Os 4 primeiros servem para compreender as relações sociais que criam as estruturas (institucionais, culturais e burocráticas) da sociedade. Os 3 tipos de dominação servem para que possamos compreender as relações políticas e as estruturas de poder.

ação-social-tipo-ideal

Racionalidade e Ação Social

Primeiramente, Weber define Ação social como toda ação que é dotada de um sentido compartilhado, ou seja, quando agimos levando o outro em consideração. Abrir um guarda-chuva porque começou a chover é só uma ação comum. Se coçar, espirrar também são igualmente ações simples, inatas, naturais. Porém oferecer para compartilhar o guarda-chuva, disfarçar enquanto se coça ou colocar a mão sobre a boca para espirar, já podem ser consideradas ações sociais, uma vez que quando tomamos tais atitudes, estamos considerando que estamos sendo observados, ou queremos passar uma determinada mensagem.

Em segundo lugar, Weber dava muito destaque para o uso da lógica e do raciocínio em meio às ações sociais. Tanto que ele observou que existe um intenso processo de racionalização que acompanha o desenvolvimento do mundo moderno. Podemos ver isso expresso em o quanto a sociedade atual é regida por regras lógicas e racionais, expressas, muitas vezes, no formato de leis e códigos.

Desse modo, as ações sociais serão vistas por Weber dentro de uma gradação da menos racional para a mais racionalizada. Vejamos a seguir:

A ação afetiva é considerada menos racional, por ser espontânea e imediata. O ser que age o faz sem pensar nas consequências de seus atos, ele apenas segue seu sentimento e emoção do momento em que pratica a ação. Essas emoções que motivam o agir podem ser de alegria, tristeza, raiva, dentre outros. Ao saber que alguém querido perdeu um parente, é espontânea a reação de pêsames, de ir confortar aquela pessoa que está sofrendo. Um abraço, algumas palavras de carinho, uma prece religiosa.

Também pode ser colocado como exemplo uma mãe que se atira num rio, mesmo sem saber nadar, quando vê que seu filho está se afogando. O sentimento de proteção leva essa mãe a se jogar nas água, sem pensar nas consequências de seus atos.

A ação tradicional também não é racionalizada, simplesmente porque não precisa ser. O costume nos condiciona a determinadas atitudes que se tornam tão naturais para nós, que repetimos sem perceber. Dizer bom dia, agradecer, pedir desculpas e usar pronomes de tratamento são bons exemplos. Meus alunos já estão tão acostumados com a posição tradicional ocupada pelos professores que já fui chamada de senhora por até por alunos mais velhos que eu!

Muitas atitudes que tomamos são motivadas ou guiadas pelos nossos costumes e hábitos.

Observamos isso em situações como: comemorar aniversários ou bodas, trocar presentes, celebrar datas religiosas, adotar determinadas simpatias ou superstições.

Agora vamos entrar nas ações racionais: elas são planejadas, previamente pensadas, calculadas, organizadas, administradas, todas as consequências são medidas e pesadas.

A ação racional com relação a valores é motivada pela crença, honra, fé, moral, carisma, ética, etc. A pessoa age por causa de seus valores, mas o faz de forma racional, ou seja, ela planeja seus atos e calcula suas consequências. Os exemplos mais extremos que podemos trazer são os homens-bomba, que assumem a consequência de seu ato (a morte e o assassinato), e inclusive, que se preparam para tal ação. O xis da questão é que este homem-bomba pratica este ato por sua fé, pela crença na salvação de sua alma.

Imagine o quanto de preparo e organização foi preciso para os sequestradores dos aviões que foram atirados contra as Torres Gêmeas de 11 de setembro de 2001? Foram anos de estudo, estratégia, preparo militar e tantos outros aspectos que foram necessários para este ato. Na perspectiva dos sequestradores, eles estavam salvando não apenas suas próprias almas, mas também dos que seriam as vítimas do ataque.

Indo para um caso menos extremo, o ato de ir ao culto ou à missa, sair em caravana para Aparecida do Norte para pagar uma promessa, também são exemplos de ações racionais motivadas por valores, no caso, a fé religiosa.

Imagine a situação: Você encontra uma carteira com documentos e dinheiro. Você poderá tomar 2 atitudes: ou você irá guardar o dinheiro para você a abandonar ou jogar fora os documentos; ou você irá usar os documentos para encontrar a pessoa e devolver a ela sua carteira intacta. Ambas ações serão racionais, mas o que definirá se você vai escolher a primeira ou segunda opção, serão os seus valores.

A ação racional com relação a fins é motivada por um objetivo ou finalidade a ser atingido, assim como pela legalidade e burocracia presente no nosso cotidiano. A sociedade contemporânea é extremamente racionalizada. Todos os dias seguimos uma série de ações racionalizadas para atingir objetivos: levantar com o despertador, respeitar as regras de trânsito enquanto se dirige ao trabalho ou aos estudos, estudar para uma avaliação, planejar alguma atividade, aprender uma nova prática, economizar dinheiro para comprar algo desejado, respeitar as regras do condomínio ou da escola, etc.

Além de todo o planejamento, organização e preparo para atingir determinados objetivos, também condicionamos à nossa a ação as consequências que cairiam sobre nós caso não seguirmos determinadas regras de conduta.

Um engenheiro toma muito cuidado em seus cálculos para a construção de uma ponte porque ele sabe que as consequências de uma medida errada seriam drásticas. Eu respeito as regras de transito e velocidades máximas porque sei que as consequências do seu desrespeito seriam caras para mim, ou mesmo mortais. Você que está estudando a partir deste texto, o faz porque quer atingir uma boa nota na prova. Todas essas são ações que dependem da nossa racionalidade, do uso da lógica e do planejamento porque temos finalidades que queremos alcançar. Se manter vivo, não matar ninguém, passar de ano, por exemplo.

Poder e Dominação

Weber diferencia o conceito de Poder do de Dominação. Para o sociólogo, poder é a capacidade que indivíduos e grupos tem de fazer valer sua vontade sobre outros indivíduos ou grupos. Já dominação seria a legitimidade e obediência à ordem dada. Ou seja, todos que dominam, demonstram poder, mas nem todos que tem poder são capazes de dominar.

Já ouviu falar daquele professor que não tem domínio de sala? Teoricamente o professor seria uma figura de autoridade e respeito, então teoricamente, o professor deveria ter as suas ordens acatadas. Mas nem sempre isso acontece, porque por mais que o professor tenha o poder garantido, inclusive, em estatuto, não há nada que garanta que os seus alunos irão obedecê-lo.

O que Weber observou é que os indivíduos obedecem quando se sentem motivados para tal. E ele ainda destaca que o medo não é uma forma legítima de dominação, porque a ordem será descumprida na primeira oportunidade do dominado ir contra o seu dominador.

Outra forma de dizer isso é que para alguém ou um grupo aceitar ser dominado, aceitar obedecer, legitimar (acatar) a uma ordem, ele precisa de motivos. Sendo assim, três tipos ideias foram separados por Weber:

A dominação carismática é motivada pelo carisma do líder. O dominado acata à ordem porque está convencido que o seu líder deve ser seguido. O indivíduo que dá a ordem envolveu, cativou, fez que seus dominados acreditassem nele como um guru, um líder, um guia, um herói. Alguém que deve ser admirado. Durante todos os meus anos dentro de uma escola percebi que era muito mais fácil respeitar um professor quando se gostava dele. Profetas também são excelentes exemplos de lideranças carismáticas.

A dominação tradicional é aquela que, como o nome diz, segue a tradição. O dominado obedece porque lhe foi ensinado a obedecer. Ele segue a ordem porque o costume e o hábito o levou a isso. Isso torna-se evidente quando pensamos no respeito aos mais velhos ou a figuras religiosas, como padres e pastores. A rainha da Inglaterra, Elizabeth II também é um exemplo de liderança tradicional. desde o século XVIII a família real não tem mais poder político na Inglaterra, porém eles permanecem como uma liderança tradicional, sendo lembrados pela História, retratados em monumentos, seguidos como celebridades e tradados com prestígio e respeito nobre.

A dominação legal (racional ou burocrática), é a mais típica da nossa atualidade. É aquela que segue o estatuto legal, quem obedece o faz por conta das leis, dos códigos de conduta ou da burocracia racional que o diz que deve obedecer. Você pode não gostar do seu prefeito, mas as leis que ele sanciona você não tem outra escapatória, a não ser obedecer. Você pode até querer mandar aquele funcionário público pro quinto dos infernos, mas você evita fazer isso na frente dele, porque sabe que haverá sanções, punições, caso não acate à sua ordem. Você pode já ter um ranço enorme daquele professor, mas não quer fazer ele perder a cabeça, porque sabe que corre riscos de levar uma suspensão. E por mais que você ache que seu trabalho é o maior tédio, você acata às ordem do seu patrão, porque você depende desse emprego. Há todo um pensamento lógico por trás de todas essas ordens racionais que você recebe e se vê motivado a seguir. Nossa vida é permeada de dominação legal.

Atenção!

Um mesmo poder pode contar mais de um tipo de dominação. Por exemplo, Hitler: ele era um líder extremamente carismático, tanto que foi capaz de convencer os alemães a aceitarem muitas atrocidades. Mas ele também era um líder legal, porque ele era o Reich, o equivalente ao presidente. Podemos dizer o mesmo de Getúlio Vargas, ou Lula. O Papa é também um líder tradicional, mas também é, para parte dos católicos, um líder carismático, e para o Vaticano, um líder legal/burocrático. A chace é nos perguntarmos sempre: o que motiva o indivíduo a obedecer?