Pular para o conteúdo
FERNANDO DE AZEVEDO E A SOCIOLOGIA BRASILEIRA
Por Jeniffer Modenuti

Professor, educador, crítico, ensaísta e sociólogo, nasceu em São Gonçalo do Sapucaí, MG, em 2 de abril de 1894, e faleceu em São Paulo, SP, em 18 de setembro de 1974.
Foi, aos 22 anos, professor substituto de latim e psicologia no Ginásio do Estado em Belo Horizonte; de latim e literatura na Escola Normal de São Paulo; de sociologia educacional no Instituto de Educação da Universidade de São Paulo; catedrático do Departamento de Sociologia e Antropologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Professor emérito da referida faculdade da USP. Foi professor de Antônio Cândido e Florestan Fernandes. Era o representante típico de uma intelectualidade aristocrática e humanista ao mesmo tempo, que unia anseios liberais e moderadamente socialistas a um estilo de vida senhorial, marcado por origem socioeconômica ilustre e abastada. Ao lado de Anísio Teixeira e outros, destacou-se nas campanhas pela laicização do ensino e pela escola pública. Desempenhou papel importante na criação da Universidade de São Paulo e foi um dos primeiros mestres brasileiros de sociologia naquela instituição. Sua principal obra é Cultura Brasileira (1943), na qual retoma o tema da unidade nacional fundada nas diferenças étnicas, regionais e culturais.
DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO EM FERNANDO DE AZEVEDO
O sociólogo Fernando de Azevedo ao discutir a formação do pensamento social brasileiro aborda alguns temas centrais: escravidão, colonização, identidade cultural, política e padrão de domínio político que vigorava no Estado Brasileiro. Além desses Azevedo chama atenção também para um tema já presente no pensamento de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda: o patriarcalismo que vigora na sociedade brasileira durante os séculos XVI a XIX, apresentando ainda resquícios no século XX.
Nessa relação patriarcalista e também patrimonialista de predominância do âmbito privado sobre o público, Azevedo destaca as tradições presentes no padrão de domínio político que visavam impedir a mudança e a modernização. Ele irá dizer que no interior da formação social e política do Brasil sempre ocorreram indicativos da mudança, onde forças sociais se organizaram dispostos à mudança. Basta pensarmos as revoltas do período regencial, como A Inconfidência Mineira, Balaiada, Sabinada, Revolta dos Malês, ou mesmo os movimentos pela Abolição da Escravatura ou Proclamação da República.
Azevedo acredita que para pensarmos e a política e o Estado brasileiro temos que nos preocupar com duas questões fundamentais: a economia e a cultura. O primeiro diz respeito ao modo de estruturação da vida econômica no modo de configurar a composição da vida política. Quanto a cultura, deve-se pensar sobre a mentalidade (violenta, patriarcalista, patrimonialista, corrupta) da dominação no Brasil. Esses dois elementos, economia e cultura, estão fortemente vinculados um ao outro.
O patriarcalismo, pelo poder da tradição e relação de favores, mantém a dominação do privado sobre o público, que abre os caminhos para a cultura partrimonialista de governar o publico de modo a atender interesses privados. São dois processamentos importantes, significativos para compreender como se dá a relação política brasileira, onde patriarcalismo e patrimonialismo são complementares.

Fernando de Azevedo denuncia que nós temos uma prática autoritária nas instituições sociais e também nas relações sociais. E este é um terrível entrave à democracia, pois essa cultura política violenta dita como o poder é distribuído e como os indivíduos podem entrar ou não nas discussões da arena política. Logo, a grande parcela pobre, marginalizada e analfabeta da população era banida das discussões, e inclusive das decisões, sendo esquecida do processo político.
 Para mudar essa cultura política violenta, autoritária e antidemocrática, somente por meio da educação. Educação e democracia estão intimamente ligados.
É preciso entender a realidade e a educação é o mecanismo de entendimento e transformação da realidade. Para haver maior participação da população é preciso promover canais de participação, como movimentos sociais que levam suas reivindicações para o governo para que este possa atender suas demandas.
Sendo assim, nosso grande desafio é a mudança na maneira como o povo brasileiro vê a política e a democracia. Por isso Azevedo destaca sua grande fé na educação. Azevedo tem uma perspectiva que uma educação pública de qualidade que abarcasse todos os indivíduos, a qual levaria a um tipo de educação em que os indivíduos dos diferentes grupos sociais teriam que conviver uns com outros, pobres e ricos. Há assim a possibilidade de uma educação mais democrática, pois a própria sala de aula seria uma esfera democrática, uma colméia onde todos contribuiriam uns com os outros, logo, da mais tenra idade as crianças seriam socializadas em uma nova consciência coletiva que levaria à geração de uma nova  democracia. Isso seria um processo geracional de muitos anos que quebrariam a mentalidade arrogante e autoritária. Os setores mais abastados teriam conhecimento e convívio com os setores menos abastados. Isso levaria, segundo Azevedo, um projeto coletivo de nação.
A cultura autoritária pode mudar para uma cultura mais democrática a partir desse processamento educacional, onde se estreita a partir do interesse coletivo.

Este é um elemento fundamental, pois a cultura patriarcal e patrimonialista, que são centradas nos interesses privados, impossibilitam uma mentalidade democrática. Por isso a necessidade de uma transformação da educação que fosse do público ao privado, do coletivo ao individual, em discussões efetivas com a comunidade, onde corpo escolar, alunos, pais de alunos como um todo discutem juntos as demandas da escola. Esse envolvimento, da escola encravada na comunidade, levaria a uma perspectiva sobre a educação que levaria mesmo quem fosse de fora da escola, valorizasse a escola, o professor, a rotina da sala de aula. Estes são elementos constituidores de uma nova democracia. 
Referências:
LIEDKE FILHO, E. D. A Sociologia no Brasil: história, teorias e desafios. Sociologias, Porto Alegre, ano 7, nº 14, jul/dez 2005, p. 376-437.
REZENDE, M.J. Diferenciação, evolução e mudança social em Fernando de Azevedo. Cronos, Natal-RN, v 5/6, n ½, p. 173-192, jan./dez. 2004/2005.