FERNANDO DE AZEVEDO E A SOCIOLOGIA BRASILEIRA
Por Jeniffer Modenuti

Foi, aos 22 anos, professor substituto de latim e psicologia no Ginásio do Estado em Belo Horizonte; de latim e literatura na Escola Normal de São Paulo; de sociologia educacional no Instituto de Educação da Universidade de São Paulo; catedrático do Departamento de Sociologia e Antropologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Professor emérito da referida faculdade da USP. Foi professor de Antônio Cândido e Florestan Fernandes. Era o representante típico de uma intelectualidade aristocrática e humanista ao mesmo tempo, que unia anseios liberais e moderadamente socialistas a um estilo de vida senhorial, marcado por origem socioeconômica ilustre e abastada. Ao lado de Anísio Teixeira e outros, destacou-se nas campanhas pela laicização do ensino e pela escola pública. Desempenhou papel importante na criação da Universidade de São Paulo e foi um dos primeiros mestres brasileiros de sociologia naquela instituição. Sua principal obra é Cultura Brasileira (1943), na qual retoma o tema da unidade nacional fundada nas diferenças étnicas, regionais e culturais.
DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO EM FERNANDO DE AZEVEDO
O sociólogo Fernando de Azevedo ao discutir a formação do pensamento social brasileiro aborda alguns temas centrais: escravidão, colonização, identidade cultural, política e padrão de domínio político que vigorava no Estado Brasileiro. Além desses Azevedo chama atenção também para um tema já presente no pensamento de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda: o patriarcalismo que vigora na sociedade brasileira durante os séculos XVI a XIX, apresentando ainda resquícios no século XX.
Nessa relação patriarcalista e também patrimonialista de predominância do âmbito privado sobre o público, Azevedo destaca as tradições presentes no padrão de domínio político que visavam impedir a mudança e a modernização. Ele irá dizer que no interior da formação social e política do Brasil sempre ocorreram indicativos da mudança, onde forças sociais se organizaram dispostos à mudança. Basta pensarmos as revoltas do período regencial, como A Inconfidência Mineira, Balaiada, Sabinada, Revolta dos Malês, ou mesmo os movimentos pela Abolição da Escravatura ou Proclamação da República.
Azevedo acredita que para pensarmos e a política e o Estado brasileiro temos que nos preocupar com duas questões fundamentais: a economia e a cultura. O primeiro diz respeito ao modo de estruturação da vida econômica no modo de configurar a composição da vida política. Quanto a cultura, deve-se pensar sobre a mentalidade (violenta, patriarcalista, patrimonialista, corrupta) da dominação no Brasil. Esses dois elementos, economia e cultura, estão fortemente vinculados um ao outro.
O patriarcalismo, pelo poder da tradição e relação de favores, mantém a dominação do privado sobre o público, que abre os caminhos para a cultura partrimonialista de governar o publico de modo a atender interesses privados. São dois processamentos importantes, significativos para compreender como se dá a relação política brasileira, onde patriarcalismo e patrimonialismo são complementares.
Fernando de Azevedo denuncia que nós temos uma prática autoritária nas instituições sociais e também nas relações sociais. E este é um terrível entrave à democracia, pois essa cultura política violenta dita como o poder é distribuído e como os indivíduos podem entrar ou não nas discussões da arena política. Logo, a grande parcela pobre, marginalizada e analfabeta da população era banida das discussões, e inclusive das decisões, sendo esquecida do processo político.
Para mudar essa cultura política violenta, autoritária e antidemocrática, somente por meio da educação. Educação e democracia estão intimamente ligados.
É preciso entender a realidade e a educação é o mecanismo de entendimento e transformação da realidade. Para haver maior participação da população é preciso promover canais de participação, como movimentos sociais que levam suas reivindicações para o governo para que este possa atender suas demandas.

A cultura autoritária pode mudar para uma cultura mais democrática a partir desse processamento educacional, onde se estreita a partir do interesse coletivo.
Este é um elemento fundamental, pois a cultura patriarcal e patrimonialista, que são centradas nos interesses privados, impossibilitam uma mentalidade democrática. Por isso a necessidade de uma transformação da educação que fosse do público ao privado, do coletivo ao individual, em discussões efetivas com a comunidade, onde corpo escolar, alunos, pais de alunos como um todo discutem juntos as demandas da escola. Esse envolvimento, da escola encravada na comunidade, levaria a uma perspectiva sobre a educação que levaria mesmo quem fosse de fora da escola, valorizasse a escola, o professor, a rotina da sala de aula. Estes são elementos constituidores de uma nova democracia.
Referências:
LIEDKE FILHO, E. D. A Sociologia no Brasil: história, teorias e desafios. Sociologias, Porto Alegre, ano 7, nº 14, jul/dez 2005, p. 376-437.
REZENDE, M.J. Diferenciação, evolução e mudança social em Fernando de Azevedo. Cronos, Natal-RN, v 5/6, n ½, p. 173-192, jan./dez. 2004/2005.