Para conhecermos como é um movimento social, vamos nos apoiar no livro de Ilse Scherer-Warren, Movimentos sociais, uma interpretação sociológica, destacando os elementos que compõem o campo de análise: o projeto, a ideologia e a organização.
O projeto
O projeto significa a proposta de um movimento, que pode ser, como vimos, de mudança ou de conservação das relações sociais. Ele implica na criação de novas relações sociais que possam vir a superar as condições que o motivaram (ainda que o movimento social tenha um caráter conservador). Assim temos que, todo movimento social contém um projeto, e quando nos perguntamos qual o projeto de um movimento, estamos pensando em seus objetivos, em suas metas, enfim, no que o movimento pretende.
Para um movimento social atingir os objetivos a que se propõe, é necessária uma certa estratégia, procedimentos adequados que possibilitem o sucesso da ação coletiva. Ao mesmo tempo em que o projeto revela o desejo, a intenção de um movimento, ele nos mostra como os seus participantes se veem– o que demonstra a consciência de sua força, bem como a força de seu adversário, contra quem o movimento se dirige.
A complementação dessas ideias sobre o projeto, ou da apreensão de seu conteúdo, deve ser feita levando-se em consideração a análise dos outros elementos.
A ideologia
A ideologia corresponde às ideias que os homens fazem da sociedade em que vivem. Quando elas expressam “corretamente” as relações existentes, mostrando os interesses que animam as relações, podemos dizer que a ideologia se constitui num instrumento de luta dos grupos sociais. Se, ao contrário disso, as ideias não correspondem à realidade das relações de opressão existentes, podemos dizer que se trata de uma “falsa consciência”. Nesse sentido, a ideologia atuaria como uma forma de mascaramento das reais condições de opressão, atendendo, por conseguinte, aos interesses dos grupos dominantes.
É sensato nos estudos dos movimentos sociais considerar ideologia como “visão de mundo”, ou seja, um conjunto de ideias que contém as reais condições bem como a “falsa consciência”. Essa opção se justifica uma vez que relações sociais tem natureza contraditória (ou seja, que ao mesmo tempo existem ideias e valores que negam os interesses dominantes, existem ideias e valores que afirmam os mesmos) e considerando que os movimentos sociais são manifestações das relações sociais, os mesmos não estão isentos de contradição. E mais, nem sempre a base social dos movimentos é homogênea. Cabe destacar que muitas vezes, durante a ação do movimento é que se revelam as reais condições das relações sociais aos indivíduos.
É a ideologia que fundamenta os projetos e as práticas dos movimentos, revelando sua “visão de mundo” e definindo o sentido de suas lutas. A própria forma de organização e direção de um movimento revela seu caráter ideológico.
A organização
Os movimentos sociais possuem uma organização hierárquica que pode ser:
· Descentralizada:não está vinculada a nenhum corpo dirigente fixo e previamente determinado. A organização pode ocorrer de modo coletivo com o revezamento entre os membros, uma vez que todos são vistos como liderança.
· “Centralizada”:vinculada a um corpo de líderes mais ou menos fixo e destacado dos demais membros.
A forma de organização de um movimento social tem consequências importantes com relação a sua dinâmica interna e externa. Internamente, observa-se que uma organização sem a devida hierarquiaentre liderança e base pode favorecer certa espontaneidade das ações, o que levaria a falta de controle do movimento, resultando em seu próprio prejuízo. Por outro lado, uma organização fundada num corpo de líderes afastados da base pode ser conduzida a práticas autoritárias e elitistas, com os demais participantes desempenhando o papel de “massa de manobra”.
Este texto não é meu. Reprodução para fins didáticos.